Por que é tão difícil parar de fumar?
Em primeiro lugar porque o tabagismo é uma doença e, como toda doença, é preciso ser tratada - não dá para simplesmente desistir de tê-la. Culpa da nicotina, substância que causa a dependência. Ela provoca alterações no sistema límbico - região do cérebro que comanda as emoções e as necessidades básicas do corpo, como comer e dormir. "São essas mudanças na estrutura cerebral que despertam a vontade de dar mais uma tragada, necessidade que se repete várias vezes ao dia", conta o pneumologista Ciro Kirchenchtejn, que comanda o Ambulatório Antitabagismo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista. A presença da nicotina na massa cinzenta diminui a produção natural de neurotransmissores que dão a sensação de prazer, como a dopamina e a serotonina. Sem contar tanto com elas, para o corpo voltar a se sentir bem, ele vai precisar da droga. A forte sensação de desprazer e outros sinais desagradáveis que ocorrem na ausência de nicotina é conhecida como síndrome de abstinência, um dos fatores que mais dificultam parar de fumar. "Quem consumia um maço por dia, por exemplo, enfrenta umas 20 crises de estresse diariamente por falta dessa substância", completa. Isso sem falar nadependência psicológica, a falta que faz o velho hábito de estar com o cigarro por perto. Não é à toa que a maioria dos tabagistas simplesmente não consegue se livrar do vício na primeira tentativa. Cerca de 80% dos que param pra valer só são bem-sucedidos depois de tentar cinco vezes. Por isso, se você já tentou apagar o cigarro do seu cotidiano sem sucesso, não desista.
Como parar de fumar?
É óbvio, mas vale frisar: largar o cigarro depende, em primeiríssimo lugar, do desejo do fumante. É ele quem deve enumerar os inúmeros benefícios da decisão e preparar estratégias para superar os sintomas da abstinência que funcionem no seu caso. “A força de vontade é o alicerce para acabar com o vício”, afirma o psiquiatra e psicoterapeuta Cláudio Pérsio Carvalho Leite, diretor de uma clínica antitabagismo de Belo Horizonte, Minas Gerais. “Sem ela, o que já é difícil fica impossível”, completa.
Quem pretende abandonar o vício sozinho vai se defrontar com o embate entre o desejo de parar e a necessidade, tanto psicológica como fisiológica, criada pelo cigarro. “O fumante deve marcar uma data, elaborar um plano e ainda considerar as possibilidades de procurar orientação médica e utilizar medicamentos”, recomenda o especialista Montezuma Pimenta Ferreira, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. “É bom ir reduzindo em 20% o número de cigarros tragados a cada semana até chegar ao dia estabelecido, aquele de zerar o hábito de vez.”
Também é importante buscar alternativas quando bater aquela vontade de dar suas baforadas. Vale tudo: fazer atividade física e exercícios de respiração, cantar, rabiscar... Você precisa evitar os gatilhos, as situações que propiciam a recaída: tédio, estresse, companhia de outros fumantes, bebidas alcoólicas e café. Para fechar o cerco à síndrome de abstinência, peça a ajuda (e a paciência) da família e dos amigos. Além, é claro, de tirar de cena objetos que lembrem o vício, como cinzeiros.
O que mais pode lhe ajudar?
• Medicamentos
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Prepare-se para dar adeus ao fumo
Sem um bom treino para vencer essa luta, as tentativas em geral são infrutíferas. E a arma mais importante para evitar frustrações é a informação. “O fumante deve estar consciente de que é um dependente e que a briga vai ser dura, mas que ele pode, sim, sair vitorioso”, diz a cardiologista Jaqueline Scholz Issa, do Ambulatório de Antitabagismo do Instituto do Coração da Universidade de São Paulo.O primeiro passo é marcar uma data e espalhar a notícia para familiares e amigos. “Assim você assume um compromisso com as pessoas de quem gosta e isso vai ser um incentivo a mais para persistir na batalha”, afirma Ricardo Meireles, técnico antitabagismo do Instituto Nacional do Câncer, o Inca.
A etapa seguinte é pensar em estratégias sobre como parar de fumar: vou usar esse ou aquele método? Devo ou não tomar remédio? Será que é melhor buscar ajuda profissional? Consigo enfrentar a barra sozinho? Pergunte-se também quais são os gatilhos que o levam a acender um cigarro.
Se você fuma para aliviar a tensão, por exemplo, o ideal é que evite ficar estressado durante a abstinência. Vale até procurar um médico, que poderá receitar um antidepressivo. “Para quem sente muita falta de segurar o cigarro, a recomendação pode ser manter as mãos ocupadas com outras coisas, como canetas ou elásticos”, explica Jaqueline. Outra boa dica é conversar com ex-fumantes. Eles vão contar como foi esse processo, o que fizeram para conseguir, qual o método que usaram. Os especialistas também sugerem que você escreva os motivos que o levaram a tomar a decisão e listar os benefícios que ela trará à sua vida. Lembre-se de carregar esse papel sempre com você. E aí, quando bater aquela vontade de jogar tudo para o alto e botar o cigarro na boca, leia o texto com atenção.
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